Ao longo dos meses de outubro, novembro e dezembro deste ano, qualquer pessoa que tenha realizado cirurgia de retirada da mama poderá recorrer ao Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPC) para a obtenção de próteses externas removíveis de silicone. A expansão do serviço da unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), destinado, primeiramente, para pacientes do próprio IPC, faz parte da programação especial da campanha “De outubro a outubro rosa”, esforço estadual com ênfase na prevenção e na detecção precoce do câncer de mama.
“É uma ação que se soma a tantas outras iniciadas neste mês de outubro”, comenta a médica Christina Benevides, diretora do IPC. “A oferta de exames de mamografia da unidade foi aumentada em 25%, subindo de 800 para mil exames ao longo deste mês. Além disso, promovemos palestras, rodas de conversa e uma série de atividades artísticas e educacionais ligadas aos temas da campanha”, acrescenta a diretora.
Para a obtenção da prótese removível de silicone, não é necessário encaminhamento médico ou agendamento da consulta. A pessoa interessada no uso da prótese deve comparecer ao Núcleo de Atendimento ao Cliente (NAC) do IPC e declarar o interesse no sutiã de prótese mamária, apresentando RG, CPF, cartão do SUS e comprovante de endereço. Depois disso, a paciente será encaminhada para avaliação no setor de Fisioterapia da unidade, onde receberá a peça com o tamanho adequado (tamanhos variam de 40 a 52).
O Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPC) localiza-se em Fortaleza (CE) e funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 12h e das 13h às 17h. Para informações, ligar para (85) 3194-0117, (85) 3194-0100, ou (85) 3194-0101.
Outubro, um mês especial
“Eu usava um sutiã de pano com enchimento de esponja que eu mesma tinha comprado. Eu não me sentia tão bem com ele e desejava muito ter um de silicone, mas era muito caro”, comenta Roseane Pereira (Foto: Thiago Andrade)
Roseane Pereira, 43, é uma das mulheres mastectomizadas que recorrem ao serviço de aquisição de próteses removíveis de silicone do IPC. Neste mês de outubro, ela veio à unidade de saúde para trocar a prótese pela primeira vez.
Natural de Parnaíba, no Piauí, Roseane mora no Ceará há mais de 25 anos. Ela conta que a aquisição da primeira prótese de silicone foi uma surpresa que ocorreu “quase por acaso”: a primeira vinda ao IPC, em 2022, se deu por causa de uma consulta ginecológica e nada tinha a ver com o acompanhamento do tratamento do câncer que provocou a retirada da mama direita, no ano de 2019.
“Eu usava um sutiã de pano com enchimento de esponja que eu mesma tinha comprado. Eu não me sentia tão bem com ele e desejava muito ter um de silicone, mas era muito caro. Quando me indicaram de buscar o sutiã daqui, achei que seria de pano também. Quando vi que era silicone, meu olho brilhou! Tirei várias fotos, mandei para minhas amigas, para minhas irmãs, fiquei muito feliz mesmo”, relembra.
Por causa de uma pré-eclâmpsia enfrentada em 2003, na ocasião do nascimento de seu primeiro filho, Roseane desenvolveu problemas nos rins que a levaram a necessidade de um transplante em 2011. A ausência da mama direita, por sua vez, é decorrente de um câncer diagnosticado em 2019. “Acho até importante deixar esse meu testemunho para as pessoas. Sou uma paciente transplantada e tive muito medo, chorei bastante, pois não sabia se minha imunidade ia suportar a hemodiálise, os remédios e ainda a quimioterapia. Mas deu tudo certo, eu não precisei parar com os remédios e meus rins suportaram tudo muito bem”, conta ela.
Foram os cuidados com os rins que motivaram Roseane a não realizar a reconstrução mamária, cirurgia garantida por lei para todas as mulheres em caso de câncer de mama. Como faz uso de imunossupressores, medicamentos indicados para prevenir a rejeição de órgãos após transplantes, a piauiense teve receio de um novo procedimento cirúrgico — um dos efeitos colaterais das medicações imunossupressoras é a diminuição da capacidade do organismo para combater microrganismos, o que aumenta o risco de infecções.
“Com o uso adequado, as pacientes devem vir realizar a troca das próteses externas a cada um ano e meio, aproximadamente”, explica Marillac Sampaio, fisioterapeuta do IPC (Foto: Thiago Andrade)
A fisioterapeuta Marillac Sampaio explica que, para algumas pessoas, a prótese removível serve de substituição ao procedimento de reconstrução das mamas: “Há pacientes que escolhem não fazer a cirurgia reparadora, às vezes é pela idade, às vezes é por motivos pessoais. Há também casos de ser uma escolha temporária, quando um tratamento de radioterapia impede uma reconstrução mais imediata, por exemplo”, explica a profissional do IPC.
Sobre a durabilidade da prótese externa, a fisioterapeuta orienta precauções muito simples: lavar cuidadosamente com água e sabão neutro e deixar para secar à sombra. “Com o uso adequado, as pacientes devem vir realizar a troca a cada um ano e meio, aproximadamente”, estima Marillac. “Outra recomendação é manter uma prótese artesanal como alternativa para usar de vez em quando. Isso vai ajudar a aumentar a vida útil da prótese de silicone”, afirma.
Além de seguir as orientações de Marillac em relação aos cuidados com a prótese removível, Roseane Pereira também segue atenta aos cuidados consigo mesma. “Fiz minha mamografia ainda em setembro. E, também no ultrassom e na radiografia, não deu nódulo, não deu cisto, não deu nada”, avisa.
Para ela, outubro é um mês de especial celebração: além de época inicial da campanha “De outubro a outubro rosa” e mês de recebimento da prótese nova, foi também quando recebeu uma notícia mais do que desejada: “Tive consulta no dia 10, recebi a minha alta. Estou curada do câncer de mama”.
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