O Brasil enfrenta um aumento expressivo nos casos de gripe em 2025, especialmente entre crianças. Segundo dados do boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgados em maio, o vírus influenza A tornou-se a principal causa de mortalidade por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em idosos e está entre as três principais causas de óbitos por SRAG em crianças.
Até a semana epidemiológica 20, foram registrados 56.749 casos de SRAG no país, com 46,5% apresentando resultado positivo para algum vírus respiratório. Entre os casos confirmados, 15,3% foram de influenza A, percentual que saltou para 30,1% nas quatro semanas mais recentes.
Com a chegada das estações mais frias, pais e mães costumam redobrar os cuidados com as crianças. Casacos, meias, proibição de sorvetes e até ordens para não andar descalço ou não dormir com o cabelo molhado se tornam rotina. Mas, afinal, o que disso tudo realmente faz sentido quando o assunto é saúde infantil?
De acordo com a Dra. Anna Bohn, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a maior parte das doenças respiratórias do inverno tem origem viral, e muitos dos hábitos popularmente considerados “preventivos” são, na verdade, mitos que atrapalham a informação e a tomada de decisões conscientes.
“Gripes e resfriados são causados por vírus. Eles entram no corpo pelas vias respiratórias, por meio do ar ou contato direto com secreções. Estar com os pés no chão frio ou o cabelo molhado não muda esse risco, embora sejam hábitos incômodos para algumas pessoas”, explica.
Mitos de inverno
Entre as principais “lendas urbanas” que retornam com força no outono-inverno, a especialista destaca:
Dormir com cabelo molhado causa gripe?
Não. O vírus da gripe não surge do frio ou da umidade. É necessário haver contato com alguém infectado.
Andar descalço dá pneumonia?
Outro mito. Pneumonia tem origem infecciosa, e não térmica. A exposição prolongada ao frio extremo pode enfraquecer o sistema imunológico, mas andar descalço dentro de casa não é um fator direto de risco.
A vacina da gripe “pega”?
Falso. A vacina é feita com vírus inativado, incapaz de causar a doença. E mesmo que a pessoa fique doente depois de se vacinar, o mais comum é que ela tenha sido contaminada por outro vírus respiratório.
Tomar sorvete no frio faz mal?
Pode até incomodar quem já está com a garganta inflamada, mas não há nenhuma relação entre tomar gelado e desenvolver infecções.
Catarro verde exige antibiótico?
Nem sempre. “O aspecto da secreção não determina se há infecção bacteriana. A maioria dos casos melhora espontaneamente, sem necessidade de antibiótico”, orienta a Dra. Anna.
A médica reforça que o excesso de crenças equivocadas pode atrasar o tratamento correto ou gerar preocupações desnecessárias, principalmente em pais de primeira viagem.
“Informação de qualidade é o melhor remédio, principalmente no outono/inverno, quando as salas de espera dos consultórios ficam cheias de casos virais autolimitados, que se resolvem sozinhos, mas acabam tratados com pânico e, muitas vezes, com medicamentos desnecessários”, conclui.