Um novo teste rápido e econômico para triagem de demência tem o potencial de melhorar substancialmente a detecção precoce da doença de Alzheimer na atenção primária, de acordo com uma pesquisa apresentada na Reunião Científica Anual de 2024 da Gerontological Society of America (GSA).
Denominado qBEANS (Quick Behavioral Exam to Advance Neuropsychological Screening, ou, em tradução livre, Exame Comportamental Rápido para Triagem Neuropsicológica), o teste consiste em solicitar que o paciente coloque grãos de feijão em pequenos copos plásticos seguindo uma sequência específica. Essa atividade avalia habilidades como aprendizagem motora, memória visuoespacial e função executiva.
A simplicidade do teste elimina a necessidade de dispositivos tecnológicos ou sensores vestíveis, tornando-o uma ferramenta prática e acessível para uso em diferentes contextos.
Estudos anteriores indicaram que o qBEANS possui alta sensibilidade e especificidade para identificar a doença de Alzheimer, além de prever o declínio cognitivo e funcional, afirmaram os pesquisadores.
Contudo, a versão atual do teste demanda aproximadamente sete minutos para ser realizada, o que pode ser um obstáculo no ambiente de atenção primária, conforme explicou a Dra. Sydney Schaefer, Ph.D., professora associada da Escola de Bioengenharia e Engenharia de Sistemas de Saúde da Arizona State University, nos Estados Unidos.
“A meta desta pesquisa foi determinar o número mínimo de tarefas necessárias para assegurar a confiabilidade de uma versão reduzida do teste em comparação à versão completa”, afirmou a Dra. Schaefer.
Versão reduzida do teste
O estudo foi conduzido com 48 participantes sem diagnóstico de demência, com média de idade de 75,4 anos, dos quais 77% eram mulheres.
Os resultados demonstraram que a versão abreviada do qBEANS pode ser aplicada em cerca de 3,85 minutos — uma redução de quase 48% no tempo em relação à versão original — sem comprometer a confiabilidade (correlação intraclasse = 0,85).
Devido à rapidez e simplicidade do procedimento, ele poderia ser administrado por assistentes clínicos logo na chegada do paciente à unidade de saúde, contribuindo para uma detecção precoce mais eficaz de casos de demência, afirmou a Dra. Schaefer.
Embora promissora, a versão reduzida do qBEANS ainda requer estudos adicionais para avaliar sua aceitação e aplicabilidade no ambiente da atenção primária.
“Os resultados também destacam a possibilidade de aprimorar a versão original (BEAN), visando sua futura comercialização como uma solução acessível e fácil de usar pelo consumidor final”, acrescentou a Dra. Schaefer.
Desafios na interpretação dos resultados
No entanto, a Dra. Carla Perissinotto, médica e professora da Divisão de Geriatria da University of California, nos EUA, levantou preocupações sobre a implementação de ferramentas desse tipo sem orientação adequada.
“Há o risco de pacientes ficarem sem saber como interpretar os resultados obtidos fora do contexto clínico”, alertou a Dra. Carla, que não esteve envolvida no estudo.
Ela destacou ainda que instrumentos de avaliação cognitiva já amplamente utilizados, como o Miniexame do Estado Mental (MEEM) e a Avaliação Cognitiva de Montreal (MoCA), são relativamente rápidos e eficazes, e sugeriu que o foco deveria estar na adoção dessas ferramentas já estabelecidas.
“Se o qBEANS não for comparado diretamente a métodos tradicionais, como o MEEM ou a MoCA, pode haver desafios na interpretação dos resultados pelos profissionais de saúde”, observou a Dra. Carla.
As pesquisadoras Sydney Schaefer e Jill Love, coautoras do estudo, informaram que são cofundadoras e administradoras da empresa Neurosessments, responsável pelo desenvolvimento do qBEANS.
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