Mais do que ajudar a manter um aspecto saudável e corado, poucos minutos diários de sol são responsáveis por evitar um problema que tem se tornado cada vez mais comum na população: a deficiência de vitamina D. Isso porque a exposição solar desencadeia o processo de síntese do colecalciferol – a forma mais ativa da vitamina D.
“Existe um precursor da vitamina D na epiderme que, quando é atingido pelos raios ultravioletas de maneira direta, se transforma em vitamina D”, explica Marise Lazaretti, endocrinologista e professora de Endocrinologia da Unifesp.
A médica, que também é integrante da comissão científica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), comenta que a mudança de hábitos da sociedade, com a vida nos centros urbanos e, consequentemente, a menor exposição ao sol, foi fundamental para os baixos níveis dessa vitamina observados na população.
Um estudo brasileiro de 2023 publicado na revista científica Journal of the Endocrine Society apontou que a prevalência geral de deficiência e insuficiência de vitamina D foi de 15,3% e 50,9%, respectivamente.
E as consequências dos baixos níveis dessa vitamina vão desde dores e fraqueza até problemas mais sérios, como osteoporose e aumento do risco de desenvolvimento de diabetes.
Papel fundamental no organismo
A vitamina D é, na verdade, considerada um hormônio e desempenha um papel fundamental no organismo, contribuindo para a saúde óssea, crescimento e imunidade.
Mariana Florentino Munhoz, médica endocrinologista do Delboni Medicina Diagnóstica, explica que, grande parte da vitamina D que o corpo utiliza realmente vem com a exposição solar, mas também há outros meios de obter esse nutriente.
De acordo com as especialistas, as principais fontes de vitamina D são:
- Exposição ao sol: responsável por 80% a 90% da vitamina D sintetizada pelo corpo;
- Alimentação: peixes gordurosos (como atum e salmão), óleo de fígado de bacalhau, gemas de ovo e alimentos fortificados (leite e cereais) são ricos em vitamina D;
- Suplementação: recomendada em casos de necessidade clínica.
É importante lembrar que não é qualquer exposição ao sol que vai possibilitar que essa vitamina seja transformada. O corpo precisa de ao menos 10 minutos diários (o mais recomendado é que sejam 15 minutos por dia) de sol.
“E não adianta ser sol fraco. Tem que ser um sol cuja incidência dos raios está quase perpendicular à Terra, entre as 10 horas e as 15 horas. Mas sempre tomando cuidado para não agredir a pele”, reforça Marise.
Além da falta de exposição ser determinante para os baixos índices, outros fatores também podem levar a essa condição:
- Dietas restritivas, que limitam o consumo de alimentos ricos em vitamina D
- Pigmentação mais escura da pele
- Período gestacional
- Má absorção intestinal (comum em pessoas que fizeram cirurgia bariátrica e com doença celíaca, por exemplo)
- Uso de medicamentos que aceleram o metabolismo da vitamina D
Problemas da deficiência de vitamina D
Entre os principais sintomas da deficiência de vitamina D estão as dores musculares, fraqueza e dor óssea e pode acontecer em todas as idades.
Quando se trata de problemas mais a longo prazo, algumas das consequências mais estudadas são os efeitos negativos aos ossos.
As especialistas destacam dois quadros comuns que podem ser causados pelos baixos índices dessa vitamina no corpo:
Osteoporose
Caracterizada pela perda progressiva de massa óssea, essa doença deixa os ossos mais frágeis e suscetíveis a fraturas.
A quantidade insuficiente de vitamina D gera baixos níveis de cálcio no sangue e, com isso, o corpo passa a produzir uma quantidade maior do hormônio da paratireoide (que é responsável por regular o cálcio no sangue).
“Nessa tentativa de manter os níveis do sangue normais, o hormônio começa a descalcificar os ossos, gerando a condição conhecida como hiperparatireoidismo secundário e enfraquecendo os ossos”, explica Marise.
A endocrinologista alerta, ainda, que o quadro de deficiência pode até não ser tão grave, mas já se identifica um aumento no risco de desenvolvimento de osteoporose.
Raquitismo ou osteomalácia
Em casos de níveis muito baixos de vitamina D, podem se estabelecer quadros conhecido como raquitismo (em crianças e adolescentes) e osteomalácia (em adultos).
Ambas as doenças são caracterizadas pelo amolecimento e enfraquecimento dos ossos. Isso acontece pela falta de minerais necessários para o endurecimento ósseo.
Os sintomas incluem dor óssea, fraqueza e ambas podem levar à deformação dos ossos.
Mariana Munhoz comenta que, além dos problemas esqueléticos, diretamente ligados ao tecido ósseo, a falta de vitamina D também acarretar condições extra esqueléticas.
A deficiência aumenta o risco de desenvolvimento dos seguintes problemas:
- Diabetes
- Doenças cardiovasculares
- Doenças respiratórias
- Doenças autoimunes
Marise também destaca que, apesar de idosos, crianças, obesos e gestantes serem considerados os grupos mais propensos a ter deficiência da vitamina, já se observa um crescimento da prevalência de baixos índices também em outros grupos.
Um estudo publicado em 2024 no Jornal de Pediatria, publicação científica da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por exemplo, mostrou que a deficiência de vitamina D pode atingir até 12,5% dos adolescentes.
Prevenção e suplementação
Em um cenário em que boa parte da população provavelmente convive ou vai conviver com baixos níveis da vitamina, tentar manter uma exposição solar regular e segura e consumir alimentas ricos nesse nutriente são dicas que podem ajudar a prevenir problemas de saúde.
“Adotar um estilo de vida saudável, que inclua uma alimentação equilibrada e a prática regular de atividades físicas também é fundamental para manter bons índices de vitamina D”, recomenda Munhoz.
Em casos em que é identificada a deficiência da vitamina – processo feito por meio de um exame de sangue específico – é recomendada a suplementação via oral.
“Quando os níveis estão muito baixos, a gente dosa a vitamina D no sangue, de acordo com o grau de deficiência. Isso deve ser feito sempre sob orientação médica”, afirma Marise Lazaretti.
A vitamina D também pode ser comprada nas farmácias, em doses mais baixas, sem receita médica. Pessoas que sabem que têm uma rotina que não inclui exposição diária ao sol podem fazer uso desse tipo de suplementação.
A especialista lembra que, quando há o consumo oral, não é necessário tomar sol com o objetivo de sintetizar a vitamina, já que ela é ingerida “pronta”.
Ela ainda alerta que o excesso de vitamina D pode gerar uma intoxicação no corpo e que, portanto, é sempre indicado que a suplementação seja feita com acompanhamento médico.
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