Um erro aparentemente simples — uma letra mal desenhada em uma receita médica — pode ser a diferença entre a cura e uma grave complicação de saúde. Casos de medicamentos erroneamente dispensados devido à ilegibilidade de prescrições preocupam farmacêuticos, pacientes e autoridades, revelando um desafio persistente nos sistemas de saúde.
A ilegibilidade nas receitas médicas é uma das principais causas de erros de medicamento. Um estudo publicado no Journal of Patient Safety estima que até 7 mil mortes anuais nos EUA estão ligadas a erros de medicamento, muitos deles originados de interpretações equivocadas.
No Brasil, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) alerta que confusões entre nomes de medicamentos (como “Diazepam” e “Diazoxide”) ou doses incorretas são frequentes, expondo pacientes a intoxicações, alergias ou falhas no tratamento.
Desafios na farmácia
Farmacêuticos relatam a angústia diária de decifrar prescrições. “Muitas vezes, perdemos minutos preciosos ligando para médicos ou cruzando dados no sistema, enquanto o paciente espera”, explica Ana Lúcia Mendes, farmacêutica com 15 anos de experiência em São Paulo. Em situações críticas, como emergências, o atraso pode agravar condições de saúde.
Orientação do CFF: nada de adivinhações
Diante do risco, o CFF é enfático: farmácias e pacientes jamais devem tentar adivinhar o conteúdo de uma prescrição ilegível. A entidade reforça que a interpretação equivocada configura falha ética e técnica, podendo resultar em responsabilização legal.
A orientação é clara: em caso de dúvida, o farmacêutico deve contatar imediatamente o médico prescritor para confirmar cada detalhe. Pacientes também são alertados a não aceitar medicamentos sem compreender a prescrição, garantindo seu direito à informação clara.
Prescrição digital
A prescrição eletrônica surge como alternativa eficaz. Países como a Suécia já adotaram o sistema digital de forma integral, reduzindo em 60% os erros de medicamento, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamentou a e-prescrição em 2020, mas a adesão ainda é lenta, especialmente em regiões com pouca infraestrutura tecnológica.
A combinação de tecnologia, educação e conscientização é crucial para eliminar esse risco evitável. Como afirma a OMS, “a segurança do paciente não é um luxo, é um direito”. Enquanto prescrições ilegíveis persistirem, a saúde pública permanecerá vulnerável a erros que a ciência já tem ferramentas para prevenir.
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