O primeiro registro de gripe aviária de alta patogenicidade (IAAP) no Brasil, confirmado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, em 16 de maio, em uma granja comercial no Rio Grande do Sul, acende um alerta para as autoridades de saúde, produtores e população, reforçando a necessidade de medidas para evitar a propagação do vírus.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou que está monitorando a situação e acompanhando os desdobramentos do caso. Até o momento, não há indícios de transmissão da doença entre humanos no Brasil.
Será que estamos diante de uma nova epidemia ou pandemia? Ainda não, mas esse surto de gripe aviária sinaliza um novo estágio no enfrentamento da doença no país. O momento é de acompanhamento dos novos casos, considerando que nas últimas décadas, já aconteceram surtos de gripe aviária em várias partes no mundo, afetando não apenas aves, mas rebanhos bovinos, por exemplo.
O Guia da Farmácia reuniu as principais informações para esclarecer dúvidas sobre a gripe aviária. Acompanhe.
O que é gripe aviária?
A gripe aviária, também chamada de influenza aviária, é uma doença infecciosa causada por vírus do tipo influenza A, o H5N1, originários de aves.
Embora a doença afete principalmente aves, há registros de infecção em mamíferos, incluindo bovinos. Casos em humanos são considerados raros, porém graves2. A taxa de letalidade por influenza aviária em humanos é em torno de 50%, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Transmissão
A influenza aviária apresenta elevada taxa de transmissão entre as aves, e também em mamíferos, como bovinos. A principal porta de entrada do H5N1 em novos territórios, segundo especialistas, é a migração de aves silvestres. Esses animais são os vetores da doença, espalhando o vírus ao se deslocarem por diferentes regiões do mundo.3
A transmissão de aves para humanos é rara. Em geral, os casos identificados são de pessoas que tiveram contato direto com as aves infectadas (doentes ou mortas), como tratadores ou outros profissionais, em ambientes contaminados (granjas, por exemplo) por fezes ou outros fluidos animais, e sem uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como luvas, máscaras, roupas especiais ou proteção ocular. 2
Atividades como depenar, manipular carcaças de aves infectadas e prepará-las para consumo em ambientes domésticos também representam fatores de risco, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).3
Já a transmissão de pessoa para pessoa ainda é mais incomum e ocorre pelo contato próximo prolongado e desprotegido; neste caso, os relatos são limitados, ineficiente e não sustentados, segundo o Ministério da Saúde.2
No entanto, como todo vírus, o H5N1 pode sofrer mutações e, portanto, existe a possibilidade de se replicar em mamíferos e humanos.
Quais são os sintomas?
Os sintomas podem variar bastante, desde quadros assintomáticos ou uma infecção respiratória leve até manifestações graves, como desconforto respiratório, pneumonia e óbito.
Os sintomas iniciais da gripe aviária são2:
- Sintomas gastrointestinais: náusea, vômito e diarreia;
- Febre alta (maior ou igual a 38°C);
- Tosse seguida de dispneia ou desconforto respiratório;
- dor de garganta;
- coriza
Já as complicações da infecção incluem: pneumonia grave, insuficiência respiratória, falência de múltiplos órgãos, choque séptico e infecções bacterianas e fúngicas secundárias. 2
Como é feito o diagnóstico?
O teste para diagnosticar a gripe aviária é semelhante ao exame feito nos casos de outros vírus influenza, com coleta de secreção nasal para análise de material genético. 2
Segundo o Ministério da Saúde, a realização desses testes segue o fluxo estabelecido pela OMS para o Sistema Global de Vigilância e Resposta à Influenza. No Brasil, três laboratórios fazem parte dessa rede e são credenciados pela OMS para manipular amostras de casos suspeitos de influenza A(H5N1): Fiocruz (RJ), Instituto Adolfo Lutz (SP) e Instituto Evandro Chagas (PA). 2
Após o diagnóstico, o paciente deve ser mantido em isolamento para monitoramento e tratamento dos sintomas. E, mesmo sem a confirmação do diagnóstico, pessoas que tiveram contato com aves contaminadas devem seguir o mesmo protocolo, pois o período de incubação do vírus varia de três a cinco dias após a exposição. 2
Tratamento da gripe aviária
De acordo com o Ministério da Saúde, casos suspeitos, prováveis ou confirmados devem ser tratados com medicamento antiviral, o fosfato de oseltamivir, preferencialmente nas primeiras 48 horas após o início dos sintomas. O antiviral pode reduzir a duração dos sintomas e o agravamento da doença.2
Formas de prevenção
A principal recomendação das autoridades sanitárias para conter a propagação da influenza aviária é limitar o contato com animais potencialmente infectados.2
Consumo de frango e ovos
De acordo com o Mapa, a doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves ou ovos. Portanto, esses alimentos podem continuar sendo consumidos com segurança.1
É preciso evitar o consumo de produtos de origem animal provenientes das regiões com casos ou surtos de gripe aviária, porque representam um alto risco.
Vacina para gripe aviária
Como os seres humanos não têm imunidade à gripe aviária, a doença pode causar quadros graves. Porém, ainda não existe uma vacina disponível e os imunizantes atuais contra gripe não protegem contra a infecção pelo vírus H5N1.
O Instituto Butantan desenvolve uma vacina contra a gripe aviária que mostrou eficácia em testes pré-clínicos. Em agosto de 2024, o Butantan enviou pedido de autorização para Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar estudos clínicos em humanos4. A documentação está em análise pela Anvisa, sem prazo definido para conclusão5.
A OMS também tem iniciativas para tentar dar respostas rápidas diante de possíveis surtos globais por meio do Sistema Global de Vigilância e Resposta à Influenza (GISRS), em conjunto com entidades de saúde animal (FAO, WOAH e OFFLU). As entidades já avaliam as soluções candidatas a vacina contra a influenza aviária.6
Gripe aviária no mundo
O vírus da gripe aviária foi identificado pela primeira vez em 1996 com alto índice de letalidade entre galinhas. Desde então, ocorreram várias ondas da infecção no mundo, causando a morte de aves selvagens e domésticas. Com o passar do tempo e a mutação do vírus, o H5N1 infectou mamíferos, como elefantes-marinhos e vacas leiteiras.
Dados da OMS mostram que, de 2003 a abril de 2025, foram contabilizados 972 casos de infecções humanas com influenza A subtipo H5N1, sendo 470 mortes em 24 países7.
Nas Américas, a OPAS registrou 66 casos de gripe aviária em humanos confirmados nos EUA e um no Canadá em 2024, além de surtos em animais em outros países da região. Em todos os casos, a transmissão ocorreu de animal para humano, e não relatos de transmissão de humano para humano8.
Gripe aviária no Brasil
Em 2023, o Departamento de Saúde Animal da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e Pecuária (DSA/SDA/Mapa) notificou à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) as primeiras detecções de influenza aviária em aves silvestres2.
Em 16 maio de 2025, o Mapa confirmou os primeiros focos de gripe aviária no país: em uma granja comercial em Montenegro e outro no zoológico em Sapucaia do Sul, municípios da região metropolitana de Porto Alegre. As medidas sanitárias foram providenciadas, o Mapa segue monitorando a região e decretou emergência zoossanitária por 60 dias em Montenegro1.
Com isso, vários países suspenderam temporariamente as importações de frango e derivados do Brasil, um dos maiores produtores globais do produto.
No dia 20 de maio, o Ministério da Saúde descartou um caso suspeito de influenza aviária em um trabalhador da granja de Montenegro, que passou por teste feito pela Fiocruz, entidade credenciada pela OMS para esse tipo de análise. O teste para H5N1 deu negativo e, segundo o Ministério da Saúde, neste momento, não há outros casos suspeitos ou em investigação em humanos no país9.
Conclusão
O recente surto de gripe aviária no Brasil alerta para uma vigilância constante e coordenada entre as autoridades sanitárias e cuidados redobrados entre produtores e a população.
Apesar de rara em humanos, a gripe aviária apresenta uma alta taxa de letalidade, o que reforça a necessidade de protocolos rigorosos de controle e segurança, principalmente em ambientes em que há contato direto com aves. O atual momento exige cautela para evitar que esse surto evolua para uma crise maior.