No Brasil, hoje, 56% dos adultos têm obesidade ou sobrepeso (34% com obesidade e 22% com sobrepeso). Um número alto, mas bem menor do que o projetado para 2044, de acordo com um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de Brasília, apresentado no mês de junho durante Congresso Internacional sobre Obesidade (ICO 2024), realizado em São Paulo. Liderado pelos pesquisadores Ana Carolina Rocha de Oliveira e Eduardo Nilson, esse estudo mostra que, até 2044, 48% dos adultos brasileiros terão obesidade e 27% sobrepeso (75% do total). Isso significa que 130 milhões de brasileiros deverão estar acima do peso em 2044.
De acordo com os autores do estudo, “é fundamental tratar os casos existentes de obesidade e evitar que os casos de sobrepeso transitem para a obesidade.” Por isso eles alertam que é importante trabalhar em todas as faixas etárias, desde a primeira infância até a fase adulta, “melhorando os ambientes alimentares por meio de políticas regulatórias e fiscais que facilitem escolhas alimentares saudáveis, como consumir uma diversidade de alimentos frescos e minimamente processados e, ao mesmo tempo, evitar escolhas não saudáveis, como alimentos ultraprocessados”, disseram os autores do estudo.”
O Ministério da Saúde reconhece a obesidade como um problema de saúde pública e defende que, diante do atual quadro epidemiológico, sejam prioritárias as ações de promoção da alimentação adequada e saudável, de prevenção da obesidade e intervenções para a construção de ambientes alimentares saudáveis.
Entre os problemas de saúde causados pela obesidade, o Ministério da Saúde destaca doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e alguns tipos de câncer.
Dia Mundial de Prevenção da Obesidade
Neste mês de outubro, quando é celebrado o Dia Mundial de Prevenção da Obesidade, a Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) lembra que a obesidade e o sobrepeso também afetam o sistema digestivo.
“O excesso de gordura pode causar vários problemas, além de desconforto ou dor estomacal após as refeições, náuseas. Os sintomas do refluxo gastresofágico aumentam de forma significativa em indivíduos com IMC ≥35 kg/m² e, além disso, observa-se que a gravidade dos sintomas cerca de duas vezes maior em pessoas obesas do que em não-obesas”, diz a médica Lourianne Cavalcante, titular da FBG.
Como exemplos a FBG cita doença hepática gordurosa metabólica, cálculos biliares da vesícula, pancreatite, além de cânceres no esôfago e junção esofagogástrica, cólon, vesícula, pâncreas e fígado. Estudos apontam que entre IMC 35-40 kg/m², a probabilidade de adenocarcinoma esofágico e de câncer de junção esofagogástrica foi mais que o dobro, e, em indivíduos com IMC ≥40 kg/m², essa probabilidade quintuplicou para neoplasia esofágica e triplicou para câncer de junção esôfago gástrica. “Muitas dessas doenças podem ser evitadas se a pessoa perder peso”, explica dra. Lourianne Cavalcante.
O que é a obesidade
A obesidade é uma doença multifatorial, com estilo de vida e fatores genéticos que influenciam a composição corporal. Por exemplo, a falta de exercício físico, hábitos alimentares errados e dormir pouco, além de estresse constante, podem aumentar o peso corporal e proporção de gordura. Baixo status socioeconômico, ambientes insalubres e fácil acesso a alimentos não saudáveis também são fatores que devem ser levados em conta.
A obesidade é reconhecida como uma doença crônica multifatorial, envolvendo componentes genéticos, comportamentais, ambientais, metabólicos e fatores socioeconômicos. Se na família há muitos obesos, maior será a herança genética relacionada à obesidade. Mas a pessoa também pode ir adquirindo gordura ao longo da vida.
“A partir do momento que não se tem hábitos alimentares saudáveis e permanece sedentário, acumula-se mais gordura”, diz a médica Lourianne. Outros fatores associados à obesidade também incluem qualidade do sono e consumo de álcool. Uma revisão sistemática identificou fatores socioeconômicos como pobreza, desemprego, insegurança habitacional e alimentar, educação e apoio social como contribuintes para o desenvolvimento da obesidade.
A FBG lembra ainda que algumas condições clínicas, assim como eventos adversos de medicamentos, podem estar associados ao aumento de peso. No entanto, ninguém deve parar o tratamento por conta própria, o ideal é conversar com o médico caso o peso esteja aumentando.
Uma outra causa importante da obesidade é o sedentarismo, por isso os médicos sempre recomendam atividades físicas. Alguns estudos mostram que até pequenas caminhadas diárias ajudam na perda de peso.
“É importante é balancear a atividade diária com a ingestão calórica adequada.” As diretrizes clínicas recomendam que todos os pacientes participem de 50min a 1:40h 3vezes/semana de atividade física moderada ou 25 a 50 min 3vezes/semana de atividade física vigorosa, bem como treinamento de resistência (musculação) 2 a 3 vezes por semana. Devem ser incentivados comportamentos não sedentários ao longo do dia, em casa ou no trabalho.
Tratamento
A prevenção e tratamento da obesidade envolvem mudanças no estilo de vida, como uma dieta equilibrada, atividade física regular, controle do estresse e sono de qualidade. Políticas públicas que promovam ambientes saudáveis e educação sobre alimentação e atividade física são fundamentais.
Hábitos saudáveis desde a infância pode ser a forma mais eficaz de prevenção e de redução de riscos associados à obesidade.
Nem sempre é fácil perder peso, sendo necessário mais que motivação para buscar o objetivo. Ter ajuda de equipe multidisciplinar de profissionais de saúde (com nutricionistas, fisioterapeutas, educadores físicos, além de equipe médica) pode ser primordial para o sucesso da mudança de hábitos e alcançar a perda de peso.
Em casos mais difíceis, pode ser recomendado tratamento farmacológico – hoje existem medicamentos eficazes para a perda de peso – e até mesmo cirurgia bariátrica. Mas mudanças de hábitos alimentares aliadas a atividades físicas costumam ser a melhor recomendação na maioria dos casos.
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