Assim como o cigarro, o sedentarismo e a exposição solar sem proteção, os agentes infecciosos, como vírus e bactérias, também representam fatores de risco para o câncer. Segundo relatório da Associação Americana de Pesquisa do Câncer, publicado em setembro de 2024, 13% dos casos de câncer no mundo são atribuídos a infecções virais ou bacterianas. A boa notícia é que, se detectadas precocemente, a maior parte dessas infecções podem ser tratadas e curadas. Algumas delas, inclusive, podem ser prevenidas com vacinas disponíveis no SUS.
A infecção transmitida pelo papilomavírus humano (HPV), por exemplo, pode causar até seis tipos diferentes de câncer: colo de útero, vagina, vulva, ânus, pênis e garganta (ou orofaringe). A infectologista do Hospital São José (HSJ), Fernanda Remígio, destaca que essas lesões levam anos até evoluir para um câncer, mas para evitá-las é fundamental realizar o exame de prevenção — também conhecido como papanicolau — periodicamente.
“O exame vai detectar precocemente a lesão, e há várias intervenções para proteger a pessoa. Quando é detectado aquele grupinho de células com aquela proliferação suspeita, já pode ser feita a cauterização. Dependendo da progressão da lesão, você pode ter um tratamento mais invasivo, mas dá para agir em muitas etapas”, explica.
Além de tratável, o HPV também pode ser prevenido por vacina, disponível no SUS para meninos e meninas de 9 a 14 anos. A infectologista explica que, por ser o HPV uma infecção sexualmente transmissível, a vacina tem maior eficácia se aplicada antes do início da vida sexual do indivíduo, quando ainda não houve exposição ao vírus.
“As vacinas do HPV são compostas por sorotipos mais oncogênicos, ou seja, mais associados à formação de câncer, e sua aplicação começou a ser indicada antes do início da vida sexual para que as pessoas, logo que se expusessem, não tivessem o risco de adquirir esses sorotipos. Depois, o Ministério da Saúde ampliou o público, pois mesmo as pessoas que já se expuseram a um ou outro sorotipo não obrigatoriamente se expuseram a todos, então ainda haveria um fator de proteção”, detalha a médica.
Hoje, o SUS também disponibiliza o imunizante para homens e mulheres que vivem com HIV, transplantados e pacientes oncológicos entre 9 a 45 anos, além dos usuários da profilaxia pré-exposição (PrEP) de 15 a 45 anos.
Vacina contra hepatite B ajuda a prevenir o câncer de fígado
Potenciais causadoras do câncer de fígado, as hepatites B e C costumam apresentar sintomas somente em estágios mais avançados, daí a importância da testagem regular para a detecção precoce da infecção. “Tanto o tipo B quanto o C têm tratamento. Inclusive a hepatite C, embora não seja imunoprevenível, o tratamento é via oral, por pouco tempo e alcança cura na grande maioria dos casos. São cânceres que a gente pode evitar”, ressalta Remígio.
Assim como o HPV, a hepatite B também é prevenível por meio da vacina; para as crianças, ela é administrada em quatro doses, sendo a primeira delas logo após o nascimento e, em seguida, aos 2, 4 e 6 meses de idade. Já nos adultos, o esquema completo se dá com a aplicação de três doses.
Bactéria H. pylori está associada a câncer de estômago
Classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como agente cancerígeno, a infecção pela bactéria H. pylori pode ser eliminada por meio de tratamento com antibióticos. “É um tratamento um pouco chato, porque envolve efeitos colaterais da medicação, que geralmente são gastrointestinais, mas também é um tratamento simples, que dá para ser feito via oral e não precisa internar. No SUS, você consegue fazer a conjugação de medicações na própria unidade básica de saúde”, reforça a infectologista.
Embora essas quatro infecções — HPV, hepatites B e C e infecção por H. pylori — possuam alto potencial carcinogênico, Fernanda Remígio afirma que essa evolução para um câncer não acontece do dia para a noite. “Não é porque hoje eu tive sintomas de gastrite que nas próximas duas, três semanas eu vou ter um câncer de estômago. Esse tipo de doença leva meses a anos para se desenvolver. Aí tem que ver o cuidado: não é do dia para a noite, mas uma pessoa que passa muitos anos sem fazer seu exame de prevenção pode ter uma surpresa”, alerta.
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