O uso indiscriminado de antibióticos é um problema de saúde pública observado em vários países do mundo, inclusive no Brasil. Para compreender os conhecimentos e as práticas da população em relação ao uso de antibióticos, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) realizou uma pesquisa nas cinco regiões do país, com 375 pessoas a partir dos 18 anos, entre 25 de outubro e 01 de novembro de 2024.
De acordo com o estudo, cerca de 70% dos pacientes responderam que seguem à risca a prescrição médica, porém 30% declararam que não fazem isso. Esse comportamento é mais comum entre pessoas das classes C (50%).
A maioria dos entrevistados (59%) declarou que não compra antibiótico sem receita, mas dentre daqueles que o fazem, 45,2% são pessoas residentes na região nordeste (34,8%). Outras formas citadas pelos entrevistados para acessar antibióticos sem receita foram: “pegou com um familiar”, “amigo que conhecia um farmacêutico”, “amostra grátis” e “já tinha em casa”.
As farmácias de bairro, com estrutura pequena, são os principais locais citados que dão acesso sem prescrição médica (27%), contra 15,3% das redes.
Embora a grande maioria (92,5%) cite que antibióticos combatem bactérias, um número menor (63%) conhece sua finalidade exclusiva. Um dado que mostra desconhecimento é que 37% dos respondentes acreditam que antibióticos também podem ser utilizados para combater vírus, fungos e até vermes e parasitas.
Entre aqueles que desconhecem o uso correto desse tipo de medicamento, 72,2% são das classes C, D e E, e, em sua maioria, residentes nas regiões Sudeste (43,1%) e Nordeste (25,7%).
Panorama de desinformação
Os dados indicam também que:
- 55,5% desconhecem o fato de que há possibilidade do desenvolvimento de resistência bacteriana aos antibióticos;
- 30,9% sabem que essa classe de medicamento combate somente as bactérias;
- 80% obtêm informações sobre antibiótico de profissionais de saúde, médicos e entidades de saúde, porém 33,3% procuram se atualizar por meio de redes sociais e influenciadores digitais, que não são fontes primárias de informação sobre o tema.
“A pesquisa traz um panorama de vida real de desinformação e um viés de comportamento que colocam os antibióticos como uma questão sensível. E isso pode ser atribuído a vários motivos como: o uso inadequado e indiscriminado que pode levar à resistência bacteriana; a procura de vários profissionais até conseguirem obter a prescrição médica; a partir de um conceito equivocado de que o antibiótico resolve tudo”, explica Ana Gales, infectologista e coordenadora do comitê de resistência antimicrobiana da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Ranking da automedicação
A análise mostrou que 24,5% dos brasileiros usam antibiótico por conta própria uma ou mais vezes por ano.
As situações que mais demandam a procura por antibióticos são:
- dor de garganta (62,4% das menções)
- resfriado e gripe (26,8%)
- sinusite (18,8%)
- ardência ao urinar (14,1%)
- tosse (14,1%)
- dor muscular (13,4%)
- dor de cabeça (12,8%)
- Alergia (8,1%)
- Rinite (7,4%)
- Micose (2,7%)
- ISTs (2,0%)
- Outros (4,0%)
Campanha de conscientização sobre antibióticos
A partir do desafio que envolve o cenário dos antibióticos no país, a SBI lança a campanha “Será que Precisa? Informe-se sobre o uso adequado dos antibióticos”.
“A iniciativa chega com o objetivo de acompanhar de perto e reforçar as principais questões sobre prescrição e uso adequado dos antibióticos para que médicos, profissionais de saúde, pacientes e sociedade civil estejam na mesma página”, alerta Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
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